*Por José Manoel Ferreira Gonçalves
Pré-candidato a prefeito do Guarujá pelo Psol.
O Falso Debate: A Ditadura Moral e a Liberdade das Mulheres
O debate sobre o aborto no Brasil está enraizado em uma profunda desigualdade de gênero, onde o discurso moralista e a autoridade masculina se impõem sobre a autonomia das mulheres. A falsa dicotomia “pró-vida” versus “pró-aborto” é uma ferramenta utilizada para silenciar as mulheres e impedir o debate público sobre seus direitos reprodutivos. Para discutir este assunto, como mínimo, é preciso vestir a pele e absorver a alma de mulher.
A retórica “sou contra o aborto, mas…” é uma forma dissimulada de defender a criminalização do aborto, evadindo a responsabilidade e ignorando a complexidade do tema. O “mas” é um cheque-caução para manter uma aparência de tolerância e neutralidade, enquanto, na prática, perpetua a subordinação da mulher e a manutenção de um sistema patriarcal que a controla e a manipula.
A narrativa de que as mulheres são “contra a vida” e “a favor do aborto” é uma caricatura perversa que desumaniza e deslegitima a luta feminista por direitos reprodutivos. A utilização de estereótipos e generalizações prejudiciais serve para justificar a tutela do Estado sobre o corpo feminino, ignorando a realidade e a complexidade das experiências e decisões das mulheres.
A Violência da Criminalização: O Estupro como Prova de Autoridade
A criminalização do aborto e o discurso moralista em torno da questão reprodutiva são ferramentas de controle social que reproduzem a violência de gênero. A desumanização da mulher e a culpabilização da vítima de estupro são elementos cruciais nessa dinâmica perversa.
A mulher estuprada é tratada como uma criminosa em potencial, culpada por ter sido violentada e por ter o poder de decidir sobre o próprio corpo e a própria vida. A criminalização do aborto transforma a mulher estuprada em refém do agressor, obrigando-a a carregar o fruto da violência, a viver com o trauma e a ser marcada para sempre pelo estupro.
O discurso moralista sobre o aborto ignora a realidade das mulheres que vivem em situações de pobreza, de vulnerabilidade social e de violência diária. É um discurso elitista que não levanta a questão da falta de acesso à saúde reprodutiva, da desigualdade social e das condições precárias que obrigam muitas mulheres a recorrerem ao aborto de forma insegura e perigosa.
A Hipocrisia do Silêncio: O Debate que Precisamos ter
A hipocrisia que cerca o debate sobre o aborto no Brasil é uma verdadeira fábrica de violência contra as mulheres. O silêncio complacente diante da realidade do aborto inseguro e da violência contra as mulheres é uma forma de complicidade com o status quo e com a perpetuação da desigualdade de gênero.
O debate sobre o aborto não se resume a uma questão moral ou religiosa. É uma questão de saúde pública, de direitos humanos e de justiça social. É uma questão que impacta a vida de milhões de mulheres no Brasil, em especial as mulheres negras e periféricas, que são as mais vulneráveis à violência de gênero e à falta de acesso à saúde reprodutiva.
A criminalização do aborto não impede que ele aconteça, apenas o torna mais perigoso para as mulheres. É necessário que se abram os olhos para a realidade do aborto inseguro no Brasil e se tome consciência de que a criminalização não é a solução.
Repensando a Vida: A Necessidade de um Debate Aberto
É necessário construir um debate público aberto e democrático sobre o aborto, que levante questões de fundo e que reconheça a autonomia da mulher sobre o próprio corpo e a própria vida. É preciso deixar de lado o moralismo e a hipocrisia que permeiam o debate e enfrentar o problema com responsabilidade, compreensão e respeito pelas mulheres.
O debate sobre o aborto no Brasil é uma questão urgente que não pode ser ignorada. É preciso repensar a vida, a saúde reprodutiva, a violência de gênero e os direitos das mulheres em um contexto de igualdade e de justiça social.
As Mulheres na Luta: Por Uma Vida Digna e Soberana
O debate sobre o aborto é um debate sobre a vida das mulheres. É um debate sobre o direito das mulheres a uma vida digna, soberana e segura. É um debate que não pode ser enquadrado nos termos de uma falsa dicotomia moral. É um debate que precisa ser realizado com base na realidade das mulheres e nas suas necessidades.
É necessário reabrir a roda do debate público sobre a violência sexual, a segurança e a saúde reprodutiva das mulheres. É preciso que se ouça a voz das mulheres, que se respeite a sua autonomia e que se defenda o seu direito à vida e à liberdade.
Fontes de Dados:
- Informações sobre o debate sobre o aborto no Brasil foram coletadas de diversas fontes, incluindo reportagens, artigos acadêmicos e entrevistas com especialistas.
- Dados sobre a violência contra as mulheres e a criminalização do aborto no Brasil foram obtidos de relatórios e pesquisas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), do Ministério da Saúde e de organizações de direitos humanos.
- Informações sobre a realidade das mulheres que vivem em situações de pobreza, de vulnerabilidade social e de violência diária foram recolhidas de reportagens, artigos acadêmicos e entrevistas com ativistas e pesquisadores sociais.
- Artigo da Jacqueline Muniz no Portal Resistentes.
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